Prefácio de Lula Vieira*

 Se você está lendo este prefácio, saiba que faz parte de uma minoria. É raro alguém ler prefácios. Primeiro porque em toda a história da leitura ninguém comprou um livro por causa de seu prefaciador. Alguns deles até que são importantes. Tão importantes que seus nomes vão para a capa do livro, como um atestado de qualidade. Mesmo assim, a tendência do leitor é imaginar que o autor do prefácio elogie livro, autor, editora, capista e todos aqueles que participaram da concepção e parto da obra. E daí pule as páginas destinadas ao prefácio. Não se conhece, na longa história da literatura, um prefaciador que se refira ao livro que apresenta como “um pé no saco, longo e aborrecido, além de totalmente equivocado em seus conceitos”.

Feito este reparo e sabendo que estou me dirigindo a um tipo raríssimo de leitor, me permita lhe dizer alguma coisa sobre o livro que você tem em mãos.  Eu gostei de lê-lo. E tenho certeza que você também vai gostar. Trata-se do relato sobre um período da vida de uma mulher inteligente e sensível, que se vê diante de alguns acontecimentos bastante dramáticos. Não vou ser estraga-prazeres a ponto de antecipar o enredo, mas posso garantir que se não são propriamente comuns, são bastante prováveis e têm a grande utilidade de dar emoção à história ao mesmo tempo que propõem uma reflexão sobre a melhor maneira de enfrentar as armadilhas que a vida coloca em nosso caminho. Não se preocupe. A autora não descobriu nenhuma fórmula mágica que vai lhe ensinar a viver melhor. Esse tipo de autoajuda passa a quilômetros deste livro. O que ela faz é narrar uma série de acontecimentos urdidos como nos bons romances, que fatalmente leva o leitor a se sentir participante da história. Bem, tudo o que eu tinha a falar do livro está dito. O resto é com você. Mergulhe na história e deixe se conduzir pelo enredo.

Só me dê uns segundinhos para falar sobre a Cris, a autora. Este é o seu segundo livro. O primeiro foi “Ana e a tal felicidade”, que foi muito bem lido e teve excelente acolhida. Cris é produtora cultural e foi através de seu trabalho que algumas peças de teatro puderam ser encenadas. Ela, apesar de seu jeito carinhoso, é uma fera trabalhando. Cria, realiza, vende, cobra. Posso falar de cadeira, pois foi ela quem produziu o espetáculo de teatro Lula contra o Mau, que Maurício Menezes e eu fizemos e que ficou dois anos em cartaz. Destaquei essa peça porque participei dela. Mas Cris assina a produção (mais ou menos quer dizer: faz a coisa funcionar) de inúmeras outras atividades culturais que só estão suspensas neste momento (março de 2021) porque a quarentena obrigou os teatros a fecharem as portas por um tempo. Incapaz de parar quieta, aproveitou o recesso e viabilizou este livro. Sem nenhum radicalismo nem agressividade, pelo contrário, Cris tem dado permanente  apoio à causa feminina. É fruto de seu esforço a realização de várias atividades voltadas para a luta das mulheres em garantir seu espaço nesta sociedade agressivamente machista. Incapaz de alterar a voz e de ser grosseira, ela é firme como um rochedo quando decide lutar por uma causa. Vestida com apuro, sempre penteada e bem arrumada, Cris é mais obreira que um peão da construção civil. O termo incansável lhe cai sob medida. É por isso, voltando ao livro que você tem em mãos, as personagens femininas são tão fortes. É assim que a Cris vê as mulheres. É assim que ela é. Bem, agora me resta desejar a você uma boa viagem pelas próximas páginas.

* Lula Vieira é publicitário, radialista e escritor.